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Cenário Socioambiental da
Chapada dos Veadeiros

O Cerrado é um tipo de vegetação de savana brasileira, cobrindo 23% da superfície terrestre do país (o mesmo tamanho da Europa Ocidental) e sendo o segundo maior bioma do Brasil. O Cerrado apresenta características típicas de regiões de savana mais úmidas, com uma estação chuvosa composta por mais de 90% das precipitações e uma forte estação seca (aproximadamente de abril a setembro). Além disso, a estrutura do solo o torna muito especial, exibindo uma configuração distrófica, com baixo pH e disponibilidade de cálcio e magnésio, e alto teor de alumínio (Ratter, 1997). Todas as peculiaridades ambientais do Cerrado o tornam um recurso biotecnológico evolutivo devido às múltiplas estratégias de sobrevivência da flora.

O Cerrado, com sua rica biodiversidade global, enfrenta ameaças significativas à sua sobrevivência. Apesar de abrigar mais de 4.800 espécies únicas de plantas e vertebrados e contribuir com 43% da água superficial do Brasil, o Cerrado perdeu 46% de sua cobertura vegetal nativa, com taxas de desmatamento 2,5 vezes maiores do que a Amazônia entre 2002 e 2011. As medidas de proteção atuais são insuficientes, com apenas 7,5% de áreas protegidas públicas e poucas restrições à conversão de terras privadas. Além disso, o Código de Conduta da Soja, que evita a conversão direta da Amazônia para o cultivo de soja, não se aplica ao Cerrado, onde há potencial para o cultivo dessas culturas. A obtenção de financiamento para conservação também é limitada, com restrições para investimentos em REDD+ e financiamento climático que não incluem o Cerrado. Esses desafios ressaltam a urgência de estratégias de conservação específicas para o Cerrado para proteger sua biodiversidade e ecossistemas únicos (STRASSBURG et al, 2017)

Existem indicadores científicos de várias plantas do Cerrado com atividades biológicas, como ações analgésicas, antiparasitárias e antibióticas. Foram encontradas atividades antimicrobianas em plantas como Pata de Vaca (Bauhninja curvula), Murici (Byrsonima verbascifolia), Jatobé do Cerrado (Hymenae astigonocarpa), Dedal (Lefoensia pacari), Camarea (Lantana camara), Candeira (Plathymenia foliolosa), Aca Ferro (Pouteria torta), Carne de Vaca (Roupala montana) para controle de bactérias gram-positivas e gram-negativas (ALVES et al, 2000). Atividades antioxidantes foram descritas em plantas como Araticum (Annona crassiflora), lobeira (Solanum lycocarpum), Cagaita (Eugenia dysenterica), Pequi (Caryocar brasilense) e Banha de galinha (Swartzia langsdorfii) (Roesler et al., 2007). Gomphrena arborescens, Gomphrena virgata, Vochysia elliptica e Miconia ferruginata também já foram descritas como apresentando ação antioxidante (CRUZ et al., 2017).

A Chapada dos Veadeiros, localizada no coração do cerrado, é uma reserva natural que abriga uma parte significativa dessa riqueza biológica. O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961, considerado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, é um dos principais destinos para aqueles que desejam explorar a biodiversidade e as belezas cênicas desse bioma.

Com cerca de 100 mil turistas anuais, a Chapada dos Veadeiros atrai amantes da natureza, pesquisadores e aventureiros de todo o mundo. A região é composta por diversas cidades, incluindo Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Teresina de Goiás, São João D'Aliança, Nova Roma, Monte Alegre de Goiás, Colinas do Sul e Campos Belos, que formam a microrregião da Chapada dos Veadeiros.

A diversidade regional é impressionante, abrangendo desde cerrados rupestres até campos úmidos, passando por matas de galeria, veredas e encantadoras cachoeiras. A fauna é igualmente variada, com espécies como o lobo-guará, tamanduá-bandeira, tucano e a arara-azul-de-lear, entre outras, encontrando refúgio nessa área de conservação.

A diversidade cultural se estende também à gastronomia e às expressões artísticas locais, como a música e o artesanato. As cidades da Chapada dos Veadeiros, como Alto Paraíso de Goiás com a Vila de São Jorge, são verdadeiros centros culturais, onde os visitantes podem experimentar a culinária regional, participar de festivais e conhecer artistas locais.

O fortalecimento das comunidades tradicionais e a preservação do patrimônio imaterial desempenham um papel fundamental em nossa missão. Ao reconhecer e valorizar expressões culturais únicas, de comunidades quilombolas e reconhecidas como patrimônio imaterial reconhecido pelo IPHAN como o "sussa", a "caçada da rainha", o "Império do Divino", o "batuque" e o "lundu", contribuímos para a preservação de tradições ancestrais e representações artísticas que são parte integral da identidade local. Essas celebrações e práticas culturais não apenas enriquecem o tecido cultural da região, mas também promovem o senso de pertencimento das comunidades, fortalecendo laços sociais e transmitindo conhecimentos de geração em geração. Reconhecemos essas celebrações como patrimônio imaterial histórico e estamos empenhados em apoiar sua continuidade e revitalização, garantindo que permaneçam como tesouros culturais para as futuras gerações.

No entanto, apesar de toda a riqueza natural e cultural da Chapada dos Veadeiros, ainda existem desafios a serem superados. O desenvolvimento social nem sempre acompanhou o crescimento do turismo, criando disparidades econômicas e sociais que precisam ser abordadas.

Em resumo, a Chapada dos Veadeiros é uma região que combina a grandiosidade do cerrado brasileiro com a riqueza de sua cultura local. É um lugar onde a natureza e a história se entrelaçam de maneira fascinante, oferecendo aos visitantes a oportunidade de vivenciar uma experiência única e de contribuir para a preservação desse tesouro nacional.

STRASSBURG, B. B. N., BROOKS, T., FELTRAN-BARBIERI, R. et al(2017). Moment of truth for the Cerrado hotspot. Nature Ecology & Evolution, 1(4), 0099. doi:10.1038/s41559-017-0099 

ROESLER, R. Atividade antioxidante de frutas do cerrado. Food Sci. Technol 27 (1) • Mar 2007 • https://doi.org/10.1590/S0101-20612007000100010 

ALVES, T. at al Biological screening of Brazilian medicinal plants. Chemoterapy • Mem. Inst. Oswaldo Cruz 95 (3) • June 2000 . https://doi.org/10.1590/S0074-02762000000300012

CRUZ at al, Avaliação da capacidade antioxidante de extratos etanólicos de plantas do cerrado brasileiro: Gomphrena arborescens L.f., Gomphrena virgata Mart., Vochysia elliptica Mart. e Miconia ferruginata DC. 69a Reunião Anual da SBPC, 2017 - UFMG - Belo Horizonte/MG 

RATTER, J. (1997). The Brazilian Cerrado Vegetation and Threats to its Biodiversity. Annals of Botany, 80(3), 223–230.doi:10.1006/anbo.1997.0469

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Mapa disponível no site do Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB) imb.go.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=95&catid=32&Itemid=179, acessado em 18 de Setembro de 2023.

Indicadores Sociais

A análise da Microrregião da Chapada dos Veadeiros e seus municípios revela uma disparidade significativa em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) quando comparados com os IDHs estadual e nacional, todos referentes ao ano de 2010, de acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).


Surpreendentemente, mesmo Alto Paraíso de Goiás, favorecida pelo acesso ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, apresentou um IDH abaixo da média estadual e nacional. O IDH de Alto Paraíso foi de 0,713, enquanto o IDH estadual de Goiás foi de 0,735 e o IDH nacional foi de 0,724.


O caso de Cavalcante se destaca, pois possui um IDH notoriamente baixo, registrado em 0,584. Embora a comparação entre dados de 2010 e 2020 seja desafiadora, os números do PIB per capita de Cavalcante em 2020 (R$ 46.043,74) revelam uma situação surpreendentemente positiva em termos de renda. No entanto, isso levanta questões sobre a distribuição de renda na região.


Em 2010, Cavalcante tinha uma das maiores proporções de sua população vivendo com menos de meio salário mínimo, com 48% da população nessa condição, ficando atrás apenas de Monte Alegre de Goiás (48,1%), na microrregião. Isso sugere que a renda e as oportunidades podem não estar chegando de forma equitativa a todas as comunidades, especialmente aquelas localizadas em áreas remotas, comunidades tradicionais e quilombos.


Além disso, é importante destacar que Teresina de Goiás enfrenta um desafio significativo em relação à mortalidade infantil, registrando uma taxa de 78,95 para cada 1.000 crianças de 0 a 1 anos em 2020, colocando-a como a nona cidade com maior taxa de mortalidade infantil no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


Esses indicadores apontam para a necessidade de ações efetivas para promover maior equidade social e econômica na região da Chapada dos Veadeiros, considerando não apenas o crescimento econômico, mas também a distribuição justa dos recursos e oportunidades entre suas diversas comunidades. A desigualdade social e econômica representa um desafio significativo que requer abordagens holísticas e políticas públicas direcionadas para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável dessas comunidades.

Desafios das Doenças Negligenciadas na Chapada dos Veadeiros: Impactos na Saúde e no Turismo Sustentável

A Chapada dos Veadeiros, com sua beleza natural e rica diversidade cultural, é uma das joias do turismo brasileiro. No entanto, a região enfrenta desafios significativos relacionados à saúde pública devido à presença de várias doenças negligenciadas, como leishmaniose tegumentar, doença de Chagas, hanseníase, dengue e outras arboviroses que também representam riscos para a população local e os turistas.


A leishmaniose tegumentar é transmitida principalmente pelo mosquito-palha, que possui hábitos alimentares crepusculares, ou seja, está mais ativo ao amanhecer e ao entardecer. Esse período coincide com os horários de trabalho na roça da agricultura familiar, quando os trabalhadores estão mais expostos ao mosquito. Essa exposição coloca em risco a saúde da população rural, que muitas vezes não tem acesso a medidas preventivas eficazes.


Os impactos sociais da leishmaniose tegumentar vão além das consequências físicas da doença, que incluem lesões cutâneas graves. A estigmatização e o isolamento social podem afetar profundamente os pacientes, prejudicando sua qualidade de vida e bem-estar psicológico. Além disso, a falta de diagnóstico precoce e tratamento adequado pode levar a complicações de saúde.


Essas doenças têm um impacto negativo não apenas na saúde das comunidades, mas também na indústria do turismo, que é uma fonte importante de renda para muitas delas. Casos de turistas contraírem doenças negligenciadas na região têm sido notícia na mídia, o que pode afastar potenciais visitantes preocupados com sua saúde. O turismo sustentável, que poderia beneficiar tanto as comunidades locais quanto a economia regional, é prejudicado quando as condições de saúde se deterioram.
Além disso, a expansão do agronegócio na Chapada dos Veadeiros tem contribuído para a infestação de carrapatos, que podem transmitir doenças graves, como a doença de Lyme e a febre maculosa. Os carrapatos proliferam em áreas rurais, onde o contato humano é mais frequente, aumentando os riscos para a saúde da população local.


Nesse contexto, a importância de medidas de prevenção e controle de doenças negligenciadas na Chapada dos Veadeiros não pode ser subestimada. O mapeamento e monitoramento das áreas de risco, juntamente com a educação ambiental e a promoção de boas práticas de saúde, são fundamentais para mitigar esses riscos. Além disso, a atuação da empresa na cooperação com autoridades de saúde locais e organizações comunitárias pode desempenhar um papel crucial na promoção da saúde pública e no desenvolvimento sustentável da região. Dessa forma, não apenas se protege a saúde das comunidades e dos turistas, mas também se fortalece o potencial do turismo sustentável como motor econômico das comunidades locais na Chapada dos Veadeiros.
 

Indicadores Educacionais

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é uma importante métrica que avalia a qualidade da educação oferecida nas escolas brasileiras. Esse índice é calculado com base no aprendizado dos alunos em português e matemática (Prova Brasil) e no fluxo escolar (taxa de aprovação). A escala varia de 0 a 10, sendo que valores mais altos indicam um desempenho melhor.

A cidade de Cavalcante apresentou o menor desempenho no IDEB dentre as cidades da Microrregião da Chapada dos Veadeiros com dados de 2019, nos três estratos educacionais, enquanto Campos Belos encontra com o IDEB acima da média nacional. O IDEB do estado de Goiás foi maior que Nacional, porém essa qualidade da educação não se apresenta na Microrregião da Chapada dos Veadeiros, apresentando indicadores abaixo da média nacional. Isso demonstra uma diferença de desenvolvimento da região em relação ao estado como um todo.

 

 

Gráfico comparativo do IDEB entre as cidades da Microrregião da Chapada dos Veadeiros, do Estado de Goiás e do Brasil. As cores não representam os indicadores do IDEB. Fonte: Saeb/Ideb, INEP - 2019, compilados e processados por  https://qedu.org.br/

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